sexta-feira, 11 de junho de 2010

lendas urbanas da internet

Matéria interessante do Baixaki Leiam:

Diariamente recebemos centenas de mensagens no Portal Baixaki. Dúvidas, elogios, reclamações, comentários, pedidos de emprego e o que mais você possa imaginar. A grande maioria é de usuários querendo participar e interagir com nossa equipe, mas algumas mensagens realmente fogem de qualquer lógica possível.

Porém, um deles chamou nossa atenção. Primeiro porque o remetente resumia-se apenas a um nome sem qualquer referência ao endereço de email. Era como se aquela mensagem tivesse surgido do dia para a noite em nossa caixa de entrada, sem qualquer explicação possível.

Além disso, o assunto e o conteúdo do texto fizeram que até os mais corajosos redatores sentissem aquele frio na espinha. Era tudo tão bizarro, e ao mesmo tempo misterioso, que era impossível duvidar do que líamos. Tinha de ser verdade!

Decidimos então atender ao pedido de publicar o email na íntegra, sem ocultar nenhum ponto, nem resumir o material. Portanto, apague as luzes, respire fundo e confira a mensagem mais bizarra que o Baixaki já recebeu. Acredite se quiser.

Assunto: Carta aberta aos usuários
De: Samara (??????)
Para: Portal Baixaki (baixaki@baixaki.com.br)
O
Divulgação/Dreamworks
Olá, meu nome é Samara e eu tenho 13 anos. Ou teria, caso estivesse viva. Vocês certamente já ouviram falar de mim depois da enorme corrente de emails que criei na tentativa de me vingar do fazendeiro que me negou ajuda quando caí de bicicleta no arame farpado de sua fazenda, há alguns anos.

O motivo que me faz novamente, em espírito, enviar emails é a minha profunda indignação com o resultado de meu apelo anterior. Em vez de as pessoas sensibilizarem-se com meu sofrimento e trazerem paz à minha alma, criaram novas formas de assustar os outros, com histórias fantasiosas e lendas urbanas sem sentido.

Pode parecer brincadeira, mas não é. A enorme quantidade de correntes originadas abalou minha credibilidade ao ponto de ninguém mais acreditar em meu destino. O fazendeiro que riu de mim continua livre até hoje e minha alma ainda perambula por este mundo, como bem podem perceber.

Peço que essa mensagem seja publicada na íntegra, sem ocultar nenhuma de minhas palavras. Caso isso aconteça, algo terrível acontecerá a todos os redatores deste site às 04h17. O blogueiro Wikerson Landim ignorou essa mensagem e desapareceu na madrugada seguinte. Que fique o exemplo.

Fantasmas plagiadores

Quando mandei o primeiro email, contando minha triste história, nunca imaginei que fantasmas fossem tão sem criatividade. Bastou que as algumas pessoas encaminhassem o recado para seus amigos para que o verdadeiro estrago fosse feito: uma enorme inclusão digital ocorreu no outro mundo, o que fez com que todos os espíritos aprendessem a usar um computador.

Espíritos no seu email?
O pior de tudo é que o maior problema não foi o spam que isso gerou (afinal não vieram para minha caixa de entrada), mas é que todas as mensagens seguintes às minhas seguiram a mesma formatação que eu utilizei! Isso é plágio! Não existe um órgão fiscalizador para isso no plano espiritual?
Uma maldição em anexo.

Muitas almas adotaram o mesmo sistema de “encaminhe essa mensagem para tantos amigos e ajude a salvar minha alma”, enquanto outros foram mais ameaçadores: ou você repassava ou a morte iria ao seu encontro em breve.

A Loira de Vermelho, por exemplo, criou dezenas de versões para sua história, que já era conhecida muito antes da internet. Transformou-se em Loira do Banheiro e do Espelho. Fez um marketing viral ao espalhar fotos em que seu vulto aparece escondido em vários lugares e dizia que roubaria a alma de quem desdenhasse de suas palavras. Exibida!

Com a inundação de emails idênticos, as pessoas deixaram de acreditar nas histórias que liam. Para que vocês tenham uma ideia, a quantidade de encaminhamentos do meu pedido caiu mais de 70% desde a popularização dessas correntes. Como posso conseguir ter paz se minha mensagem não tem credibilidade alguma?

Cuide bem de seu rim

Mas não foram apenas os espíritos que colocaram um fim na fé que as pessoas tinham com minhas ameaças. Os vivos mais céticos, por exemplo, acharam que tudo não passava de uma piada e decidiram criar suas próprias correntes. Na falta de uma história dramática (e real) como a minha, inventaram outras totalmente fantasiosas, que beiram o impossível.

É uma cilada, rapaz!
A que mais me impressiona, seja pelo nível de detalhes ou no quanto as pessoas acreditam nela, é o boato do roubo de rins. Entre as várias versões existentes, a mais famosa é a de uma gangue que drogava suas vítimas em baladas. Quando ela acordava, estava dentro de uma banheira com gelo e uma enorme cicatriz em suas costas. Ao lado, um bilhete avisando que ela deveria ligar para o hospital o mais rápido possível.

Se eu conhecesse quem criou essa mentira, juro que eu realmente lhe arrancaria os rins! Apesar de já ter recebido um email desses dizendo que alguém da minha cidade teve seus órgãos vendidos para o mercado negro, nunca a conheci. Sabem por quê? Porque é simplesmente impossível alguém sobreviver sem os dois rins!
Corte aqui.
Além disso, há um pequeno detalhe que deixa clara a mentira. Como assim um ladrão de órgãos deixa um bilhete para que você possa se salvar? Ao menos enquanto eu era viva, os bandidos não eram tão benevolentes, principalmente um que parece ter saído do filme Jogos Mortais. Agora só falta dizerem que havia um palhaço andando de triciclo no local.

A evolução do mito

O roubo de rins não foi o bastante. Para fazer com que as pessoas continuassem a encaminhar as mensagens (e deixar a minha de lado!), era preciso criar novos boatos. Então, em uma tremenda falta de criatividade, fizeram novas versões de velhas histórias para assustar os outros via email.
Éter e outras fórmulas: tudo lenda.
A proposta ainda era a mesma: uma gangue que drogava as vítimas para cometer seus crimes. As primeiras mensagens contavam sobre um grupo que atacava em estacionamentos de shoppings de uma grande capital. Com um pano umedecido em éter, o criminoso fazia a pessoa desmaiar e roubava todos os seus pertences.

Muita gente acreditou na história por muito tempo. Quando perceberam a mentira, evoluíram para outros crimes: abuso sexual, lavagem cerebral e, novamente, o roubo de rins (santa criatividade!). Depois, para não ficar repetitivo, os bandidos passaram a usar um composto natural utilizado por índios que paralisava a vítima por até quatro dias. Só me pergunto como é que os europeus (também tem uma versão dessa história em Portugal e Espanha) conseguem esse paralisante que os índios brasileiros criaram.

Cinema de terror

Apesar de minha revolta em relação a essas correntes, devo admitir que algumas são criativas. Um exemplo é a lenda de que seringas foram espalhadas em cinemas de várias capitais do Brasil. As pessoas, sem perceber a presença do objeto, sentavam sobre ele e então descobriam que tinham acabado de serem infectadas pelo vírus da AIDS.

A 
lenda das seringas contaminadas: nunca saiu dos computadores.
Obviamente, isso tudo é mentira. Como alguém vai colocar uma seringa dentro da poltrona do cinema? Ainda assim, é engraçado imaginar uma pessoa, com todo o empenho do mundo, rasgando e costurando o assento enquanto tenta fugir dos lanterninhas.

Pacto com o demo
Dezenas de pactos

Abra seu email agora e contabilize a quantidade de mensagens que afirmam que determinada celebridade fez um pacto com o demônio. Aposto que, no mínimo, uns 13 famosos são chegadas do Tinhoso e deixam isso bem claro em suas obras. Algo bem ao estilo “O Poderoso Chefão”.

Basta que uma música faça sucesso para que haja um significado satânico por trás. Se a letra tiver algo que não faça o menor sentido, é mais uma comprovação de que é uma evocação das trevas. Isso é óbvio, já que todo mundo sabe que, se você bater a cabeça no teclado e ler de trás para frente, vai ver uma mensagem do mal.

Porém, algumas mensagens realmente são bem assustadoras. Certa vez recebi um email que mostrava vários quadros de crianças chorando. O autor teria feito um pacto com o demônio: em troca da fama, ele deveria retratar as lágrimas dos pequenos.

O problema é que as imagens realmente são deprimentes e fazem com que você fique com um pé atrás com a história toda. Eu mesma morri acreditando que era a única corrente de verdade, mas no outro mundo fui direto à fonte e descobri que era mentira. Como bem dizia um velho amigo meu: “Está tudo bem agora”.

Malditos vídeos

Boa parte da culpa de minha corrente não ter mais o mesmo apelo de antigamente é o fato de ser apenas texto, sem nenhuma foto para tornar tudo ainda mais crível. E com razão, afinal quem tiraria uma foto de um espírito?

Porém, as pessoas precisam ver para crer. É por isso que os vídeos mal-assombrados são a nova sensação da internet. Quem vai se preocupar com a alma de uma menina morta que manda emails quando o Justin Bieber faz apresentações no YouTube?

O site tem dezenas de vídeos com mensagens subliminares. Filmes da Disney de adoração ao demônio, o lendário "Obedece a la morsa" e o faz com que se mate em seguida e o Mickey suicida são os mais bizarros, mas claramente falsos. Talvez esteja na hora de eu me atualizar, já que as pessoas continuam a acreditar nessas mentiras só porque veem algo que não faz muito sentido.

Porém, alguns são realmente assustadores. Por mais que dê para perceber que é apenas mais uma lenda urbana, a edição cria um clima de tensão capaz de fazer com que você acredite na história criada para o vídeo.

Um exemplo disso é o misterioso "Mereana Mordegard Glesgorv", chamado por muitos de "o filme que foi proibido pelo YouTube", mesmo possuindo dezenas de versões no site. Nele, um estranho homem encara o usuário por mais de 2 minutos. A imagem é trêmula e possui um sinistro tom de vermelho com uma trilha sonora digna de um filme de terror. No fim, o estranho homem sorri ironicamente para a câmera.

A lenda sobre esse vídeo diz que todos que assistiram ao filme na íntegra simplesmente enlouqueceram. Alguns se jogaram pelas janelas enquanto outros arrancaram seus olhos e enviaram para a sede do YouTube, o que forçou o site a proibir sua exibição.

Caça-fantasmas

Diante da descrença das pessoas em relação à minha história, que passaram a vê-la como outra lenda urbana qualquer, decidi tomar uma medida drástica. Ao invés de chegar de repente na casa da pessoa e fazer algo com ela, a melhor alternativa é enviar um aviso prévio.
Fantasmas por perto? Calma, seu telefone não vai tocar ao terminar de ler este texto, como minha xará fazia nos cinemas. Em vez disso, você, senhor usuário, é quem vai ficar atento à presença de fantasmas. Com isso você deixa de ser enganado por essas besteiras criadas na internet e passa a acreditar em espíritos de verdade, como este que vos escreve.

Desde que morri, a tecnologia evoluiu ao ponto de ser capaz de detectar a presença de seres do além-mundo. O programa EMF 6742, por exemplo, indica a existência de espíritos em sua casa, principalmente aqueles que atrapalham na transmissão de sua rede sem fio (sim, a gente faz isso).

Além disso, foram desenvolvidas câmeras capazes de visualizar espectros. Porém, elas são utilizadas para encontrar corpos enterrados, o que impede seu uso para detectar minha aproximação.

Como as plantas utilizam o material em decomposição como fertilizante, uma pequena luz é emitida e captada pelo equipamento. A não ser que você corra para onde meu corpo foi enterrado, ela não vai ser de grande ajuda.

Com essas ferramentas, espero que as pessoas voltem a acreditar em mim e em meu triste destino. Então, se você receber outra mensagem minha, saiba que não é brincadeira ou outra palhaçada da internet. Quero minha credibilidade de volta, nem que eu tenha de levar a alma de alguém para isso.

Baixaki

Um comentário:

  1. Ei, mas a dos rins, me parece que até passou uma vez na TV afirmando que realmente existiu um caso parecido. E roubo de orgãos não é novidade nem coisa de outro mundo, hein...

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